Presidente da ABMES e Secretário Executivo do Fórum das Entidades Representativas do Ensino Superior Particular
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"Conceito de competência envolve muito mais do que acumular conhecimentos, desenvolver habilidades e agregar valores. O sentido é muito importante: (...) a capacidade de mobilizar, articular e colocar em ação esses componentes para obter um desempenho eficiente e eficaz". (Bahij Amin Aur)[1]O relatório "A Curva do Aprendizado" é um trabalho investigativo encomendado pela Pearson[2] ao The Economist Intelligence Unit (EIU) com o propósito de conhecer o que está acontecendo em matéria de aprendizado nas escolas do mundo. Especificamente, o relatório visa reunir, organizar e interpretar dados capazes de subsidiar formuladores de políticas educacionais, acadêmicos e especialistas da área na identificação dos principais fatores que têm impactos na melhoria e no aprimoramento do processo educacional. Além disso, contribui para o debate global sobre os resultados da aprendizagem e para o desvendamento do que se passa na caixa preta da sala de aula. "Sabemos o que entra e o que sai, mas o que acontece lá dentro ninguém sabe", diz o relatório. O estudo, que reúne o maior conjunto de dados internacionais comparáveis sobre o ensino básico em 50 países – com mais de 2.500 informações específicas –, contou com a participação de sete educadores/pesquisadores, entre os quais a brasileira Maria Helena Guimarães Castro, e de diversas organizações na definição dos critérios para conceituar as “habilidades de sucesso”, nas quais o relatório tem seu foco central. Metade do crescimento econômico nos países desenvolvidos nos últimos dez anos, de acordo com o relatório, pode ser atribuída a uma melhor qualificação educacional, fato que implica capacitação contínua ao longo da vida, como exigência contemporânea para municiar os estudantes às várias habilidades. Um dos problemas mais gritantes e endêmicos na educação em praticamente todos os países é a falta de atenção dada à percepção e à provisão de habilidades aos estudantes. Mesmo nos países mais ricos, grande parte dos alunos é somente preparada para as “carreiras” fazendo com que empregadores se deparem com a necessidade de (re) capacitar os recém-egressos carentes de habilidades das escolas. O amplo estudo leva em conta as habilidades cognitivas e as de desempenho escolar com base no cruzamento de indicadores da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), do Programa Internacional de Avaliação dos Alunos (Pisa), das Tendências Internacionais nos Estudos de Matemática e Ciência (Timms) e das avaliações do Progresso no Estudo Internacional de Alfabetização e Leitura (Pirls). Também integraram o estudo os resultados iniciais do Programa para a Avaliação Internacional de Competências Adultas (Piacc) do qual foram tiradas quatro lições riquíssimas sobre aprendizagem adulta, educação continuada, extensão, especialização, pós-graduação entre outras. As conclusões da pesquisa são importantíssimas: 1. Pouco se consegue sem um bom ensino básico. Uma sólida educação primária é pré-requisito para uma aprendizagem adulta eficaz. Sistemas educacionais podem ensinar às crianças, logo cedo, a se portarem como estudantes para uma vida de aprendizagem mais eficaz e sensibilizá-las para aprender sempre. 2. As habilidades devem ser usadas para serem mantidas. Mesmo quando a educação primária é de alta qualidade, as habilidades adquiridas tendem a diminuir nos adultos se não forem usadas regularmente. O maior envolvimento na leitura ou em cálculos em casa ou no trabalho é resultado de maior êxito na alfabetização e de domínio dos números. 3. Os países devem levar a educação adulta a sério. Aqueles com melhor desempenho nas pesquisas sobre capacitação adulta estabeleceram algum tipo de infraestrutura de aprendizagem fora do sistema educacional formal. Uma economia que faz uso devido da capacitação da população reduz o risco de perda, com o tempo, das habilidades individuais dos trabalhadores. 4. A tecnologia é útil para fomentar a aprendizagem adulta, mas não é uma panacéia. Tecnologias móveis e a internet podem remover alguns dos obstáculos para a educação adulta de habilidades, particularmente no mundo em desenvolvimento. Essas e outras tecnologias podem facilitar o acesso das pessoas à aprendizagem adulta, mas não há grande evidência que seu uso de fato auxilia indivíduos a desenvolver as qualificações. Quais foram as habilidades eleitas para o século XXI? “Um polvo com oito braços”, aponta o relatório. São elas: 1. Liderança. É a arte de comandar pessoas, atraindo seguidores e influenciando-osde forma positiva em seus comportamentos. É uma atividade que pode ser exercitada e aperfeiçoada. As habilidades de um líder envolvem carisma, paciência, respeito, disciplina e, principalmente, a capacidade de influenciar os subordinados. 2. Alfabetização Digital. Busca-se pela alfabetização digital a oportunidade de acompanhar a nova realidade das tecnologias educacionais. Na esfera da Internet, a proposta de educação envolve o domínio digital que tem como base a comunicação, o relacionamento e o diálogo, fundamentais para permitir a leitura de mundo real/virtual e para reconhecer as novas mídias do cotidiano, na multidiversidade de textos digitais gerados. 3. Comunicação (Social). Estuda as causas, o funcionamento e as conseqüências da relação entre a sociedade e os meios de comunicação de massa – rádio, revista, jornal, televisão, teatro, cinema, propaganda, internet. Engloba os processos de informar, persuadir e entreter as pessoas. Encontra-se presente em praticamente todos os aspectos do mundo contemporâneo, evolui aceleradamente, registra e divulga a história e exerce influência sobre a rotina diária, as relações pessoais e as relações de trabalho. 4. Inteligência Emocional. O mercado competitivo de hoje depende cada vez mais de redes interligadas e interdependentes, que privilegiam as relações pessoais. Esta tendência coloca em destaque questões como o quociente emocional e as competências sociais, cada vez mais determinantes para o sucesso profissional. David Goleman[3] estabelece cinco competências para a Inteligência emocional (IE):
4. 1. Autoconhecimento emocional: o que o ser humano sabe de si próprio, incluindo seus sentimentos e intuição; autoconsciência;
4.2. Controle emocional: capacidade de gerir as emoções, canalizando-as para uma manifestação adequada a cada situação.
4. 3. Auto-motivação: direcionamento de emoções para a conquista de objetivos estabelecidos; capacidade de usar os sentimentos para conquistar seus objetivos.
4. 4. Empatia: reconhecer as emoções no outro e saber colocar-se no seu lugar; compreender o outro para uma melhor gestão das relações;
4. 5. Relacionamento pessoal: aptidão e facilidade de relacionamento. Associa-se em parte com a capacidade de entendimento e é um fator crítico nas organizações.
5. Empreendedorismo. É a atividade voltada ao desenvolvimento de competências e habilidades relacionadas à criação de projetos (técnico, científico, empresarial) que viabilizam uma ideia. 6. Cidadania Global: Expressa um conjunto de direitos que dá à pessoa a possibilidade de participar ativamente da vida e das atividades políticas de sua comunidade. Quem não tem cidadania está marginalizado ou excluído da vida social e da tomada de decisões, ficando numa posição de inferioridade dentro do grupo social. 7. Solução de Problemas: Para solucionar um problema é necessário, em primeiro lugar, entender o porquê de sua existência. Uma noção óbvia, mas nem sempre garantida. 8. Trabalho em Equipe: É situação de trabalho compartilhada por duas ou mais pessoas, com atividades predeterminadas a serem executadas. Exige interação e sentimentos comuns tais como: comunicação, cooperação, respeito, amizade. A notícia ruim do relatório "A Curva do Aprendizado" (ano 2014) é que o Brasil está em 38º lugar entre os 40 países avaliados. Mesmo subindo uma posição no ranking, o País se situa entre os que registraram queda no índice de desempenho escolar e nas habilidades cognitivas, o que deve ser preocupação de todos. A consideração mais explícita de todas estas questões pressupõe o uso e a manutenção das habilidades de estudantes totalmente engajados e apoiados por suas famílias e, mais do que tudo isto, a comunidade inteira cultuando a educação como meio de desenvolvimento pessoal e coletivo. Outra lição importante, agora voltada às crianças: fazer com que elas aprendam uma gama de habilidades é essencial para o desenvolvimento econômico de uma nação. Pensar porém quais são as são as habilidades mais importantes e qual é a melhor forma de ensiná-las é o início da evolução e/ou de uma revolução. [1] Ex-conselheiro do Conselho Estadual de Educação. Assessor técnico da Universidade do Estado de São Paulo (Unesp) / Pró-reitoria de Extensão Universitária e Assuntos Comunitários. [2] A Pearson, há 150 anos no mercado, é líder em educação no mundo e está presente em mais de 80 países com 40 mil colaboradores. http://portal.pearson.com.br/portal/pearson/sobre-nos/sobre-nos.htm [3] Escritor americano de renome internacional, psicólogo, jornalista e consultor.